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Divulgação científica nas mídias sociais

Atualizado: 11 de abr. de 2021


Conteúdo Freepik


Como doutoranda em Ciência da Informação, tenho me dedicado às pesquisas sobre apropriação das TICs (tecnologias de informação e comunicação) por grupos minoritários: as mídias alternativas. Durante a minha dissertação de mestrado "Construções identitárias & TICs: o caso do blog "Blogueiras Negras" , defendida em 2019, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), constatei que o blog Blogueiras Negras (BN), plataforma colaborativa de mulheres negras(plurais), é uma ferramenta para a construção, a organização e a disseminação de conhecimento e informação decolonial, ou seja, que descontrói as matrizes coloniais de poder (Quijano, 2005)*. Tais conteúdos colaboram para a emancipação das mulheres negras.


Durante o período pesquisado, março de 2013 a dezembro de 2017, 379 mulheres negras escreveram para o BN, incluindo as coordenadoras Charô Nunes e Larissa Santiago e 10 autoras anônimas. 76,78% das colaboradoras do BN concluíram ou cursam pós-graduação (Mestrado ou Doutorado) ou ensino superior. Dentre elas, 69 cursavam mestrado ou já eram doutoras, enquanto outras 122 já possuíam graduação completa, 100 estavam cursando o ensino superior, além de uma estudante do ensino médio e outra aluna cursinho da Uniafro . Larissa Santiago é formada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade, Charô Nunes é arquiteta e urbanista e Maria Rita Casagrande formou-se em Moda. Rosane Borges, Giovana Xavier, Ana Flávia Magalhães, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, Djamila Ribeiro, Jarrid Arraes, por exemplo, já escreveram para o BN. Dessa forma, muitos dos posts são resumos de artigos ou ensaios científicos das mais diversas áreas do conhecimento.


BN nas redes sociais: Twitter (@BlogNegras): 41,9 mil seguidores / Instagram (blogueirasnegras): 33,9 mil seguidores / Canal no Youtube


Os pesquisadores de humanas ou ciências sociais aplicadas já tinham percebido a importância em produzir conteúdo para as redes sociais. A professora e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado criou canal no Youtube e elaborou o curso Escrita Acadêmica, que reuniu vários acadêmicos, como a Débora Diniz, Álvaro Bianchi, Winnie Bueno, Cristiano Rodrigues, entre outras (os). Com 20 vídeos, a playlist teve 26.946 visualizações.


Winnie Bueno, bacharel e mestra em Direito, doutoranda em sociologia(UFRGS) e escritora, desenvolveu uma das ações mais belas do twitter: o Winnieteca (@winnieteca), que consiste em conectar pessoas que podem doar livros para quem não pode comprar. No começo ano passado, a plataforma convidou a Winnie para falar sobre o projeto nos Estados Unidos. O winnieteca tem 43 mil seguidores. A doutoranda também utiliza o Instagram (@winniebueno) para produzir informação sobre a área acadêmica como, por exemplo, preencher o Currículo Lattes.


Serge Katembera, doutorando em sociologia e pesquisador sobre a influência das Novas Tecnologias da Informação na democratização da África francófona, é outro cientista que usa o twitter ( @sk_serge) para debater temas do seu campo de pesquisa. O sociólogo é colunista do Intercept Brasil e já escreveu para a Folha de S. Paulo. Outro pesquisador da área é o Tarcizio Silva, que é doutorando e pesquisador em em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC, onde desenvolve trabalho sobre racismo algoritmo e softwares livres. Ele organizou o livro Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiaspóricos e colabora com ótimas discussões sobre tecnologia e negritude no twitter (@tarciziosilva). Mestra e doutoranda em ciências humanas e sociais na Universidade Federal do ABC, Taís Oliveira é pesquisadora e profissional em comunicação digital. Ela utiliza muito twitter (@tais_so) e também mantém um blog.


Lai Munihin, mulher indígena, socióloga e pesquisadora de relações étnico-raciais e encarceramento indígena, utiliza o twitter (@munihin_) para disseminar conhecimento do seu campo de pesquisa. Além de fios (thread) sobre a Covid-19 nas aldeias indígenas, Lai compartilha história, literatura, conceitos anticoloniais, entre outros. Em 24/12/2020, ela fez uma thread sobre vitória Mapuche contra o exército espanhol em Tucapel (Chile). Dessa forma, Lai visibiliza personagens e fatos apagados pela história oficial.


Já conhece a verdadeira história do Saci, personagem da cultura Guarani? Não, o Saci não é negro e não foi criado por Monteiro Lobato. O filosofo e escritor Guarani Olívio Jekupé mobiliza sua página no Facebook para divulgar a literatura nativa. Jekupé já escreveu vários livros e alguns deles sobre o Jaxy Jatere, o Saci-Pererê.


O campo da computação é uma área em os homens brancos predominam, mas a Nina da Hora, cientista da computação, usa o twitter (@ninadhora) para disseminar iniciativas e pensamento na área tecnológica.


Em 2020, com a pandemia do novo coronavírus e a mobilização das "fake news" pelos grupos de extrema-direita contra o isolamento social e as campanhas de vacinação, vários pesquisadores e cientistas das áreas biológicas se apropriaram das redes sociais para disseminar informações do campo, disputando as narrativas com grupos negacionistas (anti-vacina, defensor da cloroquina, contra o isolamento, entre outras).


Muitos deles têm utilizado o twitter, mas também outras plataformas como o tiktok . É o caso da doutora em microbiologia Natalia Pasternak Taschner, que apropria-se da rede social chinesa e do Instagram para publicar vídeos, dialogando com os jovens. Natalia tem 20.3k de seguidores no TikTok (nataliapasternakscience) e 34 mil no Instagram (@nataliapasternaktaschner). OMG! O vídeo publicado no TikTok sobre a rapidez no desenvolvimento das vacinas para a COVID-19 teve 235k de visualizações.

Não é possível falar divulgação científica, durante a pandemia da COVID-19 sem mencionar o Atila Iamarino, não é? Por causa das informações divulgadas por ele, criou-se o meme "Só saio se o Atila deixar". O biólogo e doutor em virologia, apropria-se do twitter (@oatila) e do Youtube disseminar conteúdo sobre o coronavírus. No microblog, ele tem mais de 1 milhão de seguidores. É autor do livro Coronavírus explorando a pandemia.


O médico e neurocientista o Dr. Miguel Nicolelis, que coordena o Comitê científico do Nordeste de enfretamento à pandemia do coronavírus, é outro pesquisador que tem usado muito as redes sociais para divulgar informações sobre a doença, as vacinas, as medidas de isolamento social e os benefícios do correto uso da máscara. O canal TV Rádio Big Bang no Youtube tem 36 mil inscritos, o Twitter (@MiguelNicolelis) 86 mil seguidores.


A biomédica e doutora em neurociências Mellanie Dutra é outra pesquisadoras que tem se apropriado das redes sociais para esclarecer dúvidas, desinformações e fake news sobre o coronavírus. No twitter, Mellanie (@mellziland) utiliza vários gifs e memes nos posts, mas sempre com muita informação. Agora ela também está usando o tiktok (@mellfdutra), um dos primeiros posts dela na rede social chinesa é sobre a mutação do coronavírus.




E as institutos de pesquisa? As instituições de pesquisa também podem se apropriar das mídias sociais para a divulgação científica. Um exemplo é a Fundação Oswaldo Cruz.


Com o nome de Instituto Soroterápico Federal, em 1990, a instituição foi criada para fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica. O bacteriologista Oswaldo Cruz foi responsável pela r erradicação da epidemia de peste bubônica e a febre amarela. Anos mais tarde, em 1908, o instituição é renomeada em homenagem ao bacteriologista. A Fiocruz é é a mais importante instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, sendo referência em pesquisas (produção de vacina) na área da saúde pública., principalmente no desenvolvimento de pesquisa para o controle de doenças como Aids, malária, Chagas, tuberculose, hanseníase, sarampo, rubéola, esquistossomose, meningites e hepatites. É integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

No último ano, a Fundação desenvolve estudo ,em parceria com a AstraZeneca/Oxford, de uma vacina contra a COVID-19.

O site da instituição tem muita informação disponível sobre a COVID-19, como o mapa MonitoraCovid19, que atualiza os dados da doença no país; as matérias sobre prevenção para idosos; o scanCOVID19, que rastreia malditamente produções científicas sobre o coronavírus etc. Além disso, há conteúdo sobre as demais doenças e a produção da vacina de Oxford. Entretanto, notamos que é CONTEÚDO, não é marketing como Instituto Butantan. A divulgação científica perde demais quando virá uma estratégia de marketing, é esta a seriedade que a ciência precisa. O conteúdo precisa ser simples, informal, usar todas as plataformas de mídias sociais, mas tem que ser informativo.

Nas mídias sociais, a Fundação Oswaldo Cruz produz e publica vídeos sobre várias doenças e pesquisas, além do novo coronavírus. Quais canais a Fiocruz utiliza nas redes sociais? Youtube, Instagram, Twitter e Facebook

Com apresentação de Ana Cristina Figueira e Gustavo Aud, a agência Fiocruz de notícias criou o podcast CoronaFatos, que tem informações baseadas em evidências científicas que esclarece desinformações e fake news sobre o coronavírus.


Portanto, as redes sociais, cada uma com forma de conteúdo diferente, podem contribuir e muito para derrubar os muros das universidades brasileiras e colaborar para a pluralidade da informação e, é claro, diminuir os efeitos nefastos das fakes news, que podem em tempos de coronavírus, inclusive, matar.


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